(Galeão S. Paulo - Reconstrução 3D realizada pelo Engº Tomas Paulino Vacas, do Centro de Engenharia e Tecnologia Naval do Instituto Superior Técnico. Estudo geométrico - Carlos Montalvão )
O galeão São Paulo foi um dos 21 galeões mandados construir por Filipe II para substituir os navios da “Invencível Armada” que se perderam na tentativa gorada de invadir Inglaterra no Verão de 1588.Seis desses novos galeões, um de 620 toneladas (o São Filipe) e cinco de 500 toneladas (o São Bartolomeu, o São Pantaleão, o São Pedro, o São Paulo e outro de nome desconhecido ), viriam a ser construídos no ano seguinte em Portugal, sendo que um deles, o São Paulo, é referido expressamente num manuscrito de 1589 (Livro Nautico, BLN – Reservados, cod.2257) como estando a ser construído no Seixal.
Pode-se ler neste texto que naquela data o galeão São Paulo “ … tem por acabar a segunda coberta que ade solhar e fazer a tolda e virotar e fazer coxias e Castelo e chapiteu e messas e cinco carreiras de cintas e tavoas as alcaixas e aposturar o convés e abobodas e varandas”, o que constitui um registo excepcional sobre aspectos concretos da construção do navio. O mesmo texto contém também elementos informativos acerca dos aprestos, da artilharia e do aparelho destes navios e é um registo emblemático acerca da forma como no final do século XVI se pensavam as coisas do mar.
(Galeão do Roteiro da Ìndia de D.João de Castro - 1541)
Quando conjugamos as informações do Livro Nautico com outros textos coevos conseguimos obter muita informação sobre a dinâmica geométrica e arquitectónica destas poderosas máquinas de guerra que conjugavam o poder de fogo com a capacidade de carga e que prodigalizaram algumas das páginas mais gloriosas da nossa história. Converter essa informação em modelos de madeira com rigor científico para fins museográficos é uma tarefa muito desafiante.
(Galeão de 500 toneladas - 1616 - Manuel Fernandes, Livro de Traças de Carpintaria)
Nesta época, um galeão como o São Paulo com as suas 500 toneladas de porte poderia teria um comprimento superior a 50 metros (da ponta mais recuada do castelo à ponta mais avançada do beque) e uma boca (largura) próxima dos 15 metros. A altura máxima da construção, na zona do painel de popa, ficaria próxima dos 20 metros e isto sem contar com os mastros e as vergas que eram sempre enormes e davam aos nossos navios a fisionomia característica de enormes colossos movimentando-se lentamente na imensidão de todos os mares do mundo.
(Vista de Lisboa - 1572 - Braun and Hogenberg)
Sabe-se que a construção do galeão São Paulo foi um pouco mais demorada do que o esperado devido à falta de madeira e que só em 1592 é que o navio está pronto para integrar a armada desse ano, que segue para Oriente sob comando de Francisco de Mello. O navio deve ter arribado a Lisboa, já que em 1593 está de novo prevista a sua partida para Malaca, o que não sucedeu por razões que se ignoram. O São Paulo só chega a partir efectivamente para o Oriente na armada que largou a 30 de Março de 1594 sob o comando de Sebastião Gonçalves de Arvelos. Terá naufragado nesta sua primeira viagem a 15 de Abril de 1595, possivelmente no regresso, em local desconhecido, provavelmente devido a excesso de carga.
(Galeão S. Paulo - Reconstrução 3D realizada pelo Engº Tomas Paulino Vacas, do Centro de Engenharia e Tecnologia Naval do Instituto Superior Técnico. Estudo geométrico - Carlos Montalvão )
Antes de deixar espaço para a imagem que vai evidenciar, em todas as vertentes, a dinâmica construtiva de um modelo de um navio histórico produzido em contexto museológico, gostaria de expressar o meu reconhecimento público a algumas pessoas que tornaram possível este projecto e que de uma forma mais ou menos discreta não deixarão de pesar sobre a dinâmica funcional do mesmo até à sua conclusão.Estou grato ao Professor Doutor Luís Filipe Vieira de Castro do Departamento de Antropologia da Texas A&M University e ao Professor Doutor Francisco Contente Domingues do Departamento de Historia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, duas das maiores sumidades internacionais no campo da arqueologia e da história dos navios portugueses dos séculos XVI e XVII, por poder contar com as suas perspectivas eruditas sobre estas matérias.
Estou grato ao Professor Doutor Engenheiro Nuno Fonseca e ao Engenheiro Tomás Paulino Vacas do Centro de Engenharia e Tecnologia Naval do Instituto Superior Técnico por ter podido contar com o seu engenho e saber na reconstrução dos desenhos geométricos e perspectivas tridimensionais do galeão São Paulo.
Estou grato ao Dr. Jorge Raposo, actual director do Ecomuseu Municipal do Seixal por suportar institucionalmente este projecto, acolhendo-o na dinâmica programática do museu onde tenho o privilégio de trabalhar.
Estou grato à Dra. Graça Filipe, antiga directora do Ecomuseu Municipal do Seixal por me ter aberto as portas do Núcleo Naval, na Arrentela, onde 420 anos depois se continua a construir, em formato pequeno, os barcos que tornaram grande a história da nossa nação.
(Galeão no Porto de Lisboa - 1576 - Braun and Hogeberg)
(Galeão do Roteiro do Mar Roxo - 1540 - D. João de Castro)
(Galeão S. Paulo - Reconstrução 3D realizada pelo Engº Tomas Paulino Vacas, do Centro de Engenharia e Tecnologia Naval do Instituto Superior Técnico. Estudo geométrico - Carlos Montalvão )Siga aqui a construção do famoso galeão São Paulo que foi construído no Seixal em 1589 por Sebastião Timudo e visite-nos na Arrentela, na margens do Rio Judeu onde esta e outras grandes aventuras começaram.
Seixal, 17 de Agosto de 2010
Carlos Montalvão
( Navios potugueses no Roteiro da Índia de D.João de Castro - 1541)
NESTE SITE PODE VER
A CONSTRUÇÃO DA ESTRUTURA DO MODELO
APLICAÇÃO DOS FORROS DO COSTADO
AS COBERTAS
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MASTREAÇÃO E VERGAME
COLOCAÇÃO DO APARELHO FIXO
COLOCAÇÃO DO APARELHO DE LABORAR
DOCUMENTAÇÃO SOBRE O GALEÃO
PÁGINA DO ECOMUSEU MUNICIPAL DO SEIXAL
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